quinta-feira, 17 de maio de 2012

(Des)faz






Desfaz nó, cria ninho...

Matilde resolveu dar basta a sua vidinha. Cotidiano convencional, (in)conveniente. Há muito enredada, eis que de repente  - não mais que urgente, irrompe uma ...um...desejo, necessidade; desconforto clareando mudança. 

O processo no qual Matilde atolou-se a partir desse raiar de sol foi vital, urgente, como pronto socorro para salvar a vida doente. Depurativo ao tornar-se consciente, ocupou plano primeiro daquela vida paciente, agora transfigurada, agente.

Nada fácil. Pouco impossível. Esforço roto. Teimosia transcendente. Teimosia? Deixa estar. Não carece complicar. Latitude. longitude. O quente/frio do viver imanente, transcendente.

Matilde, criatura simplória, acomodada,(des)obediente, (in)crédula, tudo se lhe figurava (im)pertinente.

Estado de ser. Saldo de um viver. Mas um só viver não bastaria àquela mulher que queria e temia, parava, acertava e errava, enfim, vivia.

Matilde pegou sua trouxa de retalhos e, na gare embarcou no trem da vida. Os retalhos aglutinavam-se e cobriam o corpo no frio tanto quanto espalhavam-se para que ela secasse a pele ao sol nos verões diuturnos.

Era só o que possuía. Retalhos de uma memória ora rica ora vazia. Sentindo o tempo a reclamar-lhe urgência se doava toda mesmo sem saber o que tinha. A isso chamava desejo necessário. Não era de muito pensar, deixando-se levar mais pelo que (pres)sentia. Acertava mais do que errava? Que importância isso tinha...Matilde fazia! Recusava entronar-se na hipocrisia dia e noite, noite e dia. Porta aberta, buraco no chão; fechada, casa cheia, vazia. solo firme; uma ponte, arvoredo no quintal, vendaval, pedra e flor e chuva, arco-íris, lamaçal. 

Dia após dias, estado atemporal de se saber peça de campo maior, indivíduo inequívoco de ter o saber do que é só.

Matilde, Clarice, Ana, Maria do mundo, micro, macro. Infinito, particular. 

terça-feira, 1 de maio de 2012

O Medo


O medo do medo 
o medo do medo da morte
do rumo que tome a sorte

O medo de aprender a olhar e ver
de ver hoje o que não enxerguei ontem
O medo do que será o ver
num futuro não distante...

Nesse fututo-instante
o medo do medo
de mexer os pinos
do tabuleiro andante
- Será xeque?

É o medo do medo
que faz perder a chance.

M.Senra
madrugada de 92


Comecei falando do medo pois é inerente a todos. Quem nunca sentiu medo? É um sentimento que nos alerta sobre algo que incomoda, absolutamente normal desde que não prejudique a vida cotidiana. O medo não tem hora para aflorar, mas sempre remeterá a algo já ocorrido, ou às expectativas do porvir.

É no sentido de estímulo que venho propor encararmos os medos - de experiências novas, por exemplo, que podem trazer grande satisfação e conforto e que não raro muitos de nós passamos bom tempo adiando temendo as próprias respostas e/ou as alheias:
- será que eu consigo? - O que vão pensar de mim? etc.

Hoje, 20 anos pós ter escrito do medo que sentia ameaçar, percebo claramente que sabia que algo não ia bem e mesmo me sondando não tive coragem de caminhar e perdi as chances possíveis de mudança em minha vida à época. 

Quando o alarme do medo tocar, vamos nos propor a tentar entender o que é esse sentimento, sozinhos ou com ajuda de um profissional capacitado, pois, uma vez interrompido o curso perdemos tanto e, talvez mesmo a vontade de voltar a caminhar. Isso não podemos fazer jamais!